domingo, 16 de janeiro de 2011

 
A cigana não mente 
Todos conhecem a fama das ciganas, elas começam a ler sua mão e vão dizendo que há mais coisas em seu futuro e você vai dando mais dinheiro com o intuito de saber como será sua vida daqui pra frente.
Há alg uns anos atrás em uma cidade do interior gaúcho dois amigos cresceram juntos, perto de uma lagoa no município de Hulha Negra, contavam histórias sobre este lugar, música, gemidos, assombrações, mas isso não impedia que Maneco e Zeca brincassem na tão famosa "Lagoa da Música".
O tempo passou, os amigos crescera e foram separados porque os pais de um deles, foi chamado para servir o exército no Rio de Janeiro e acabaram indo morar numa favela. Lá não dá para se comunicar direito e perderam o contato os dois grandes amigos Até que  Maneco tornou-se advogado e com o sonho de voltar a sua terra casou-se com uma moça muito bela e resolveram montar um escritório na cidade de Bagé, próximo da sua cidade natal.
 Chegando a cidade  Maneco viu que muita coisa havia mudado naquela cidade tão aconchegante onde havia passado momentos maravilhosos em sua infância e a vontade de encontrar o velho amigo estava ainda mais aguçada com a sua volta.Decidiu sair a procura do grande amigo Zeca. Em seu trajeto pela cidade cruzou por uma cigana que queria “ler lá suerte porque aconteceria algo inusitado em sua vida”, o rapaz cruzou por ela e disse que seu futuro a Deus pertence!Comprou um carro e foi até o antigo rancho onde vivia a família do amigo. Lá, Zeca meio desconfiado com aquele carro desconhecido e um homem bem apessoado saiu de dentro de casa olhando de atravessado e Maneco já foi gritando:
_ Zeca, quanto tempo meu amigo! Não estás me reconhecendo? Sou eu, Maneco!
Zeca não acreditando foi se aproximando e viu que realmente era o amigo de infância do qual fazia anos que não via.
_Não acredito! És tu mesmo Maneco? Quanto tempo... achei que nunca mais virias para estas bandas?
Depois de um longo aperto de mão e um abraço, Zeca convidou o amigo para prosear e tomar aquele chimarrão hospitaleiro que só os gaúchos sabem fazer! Passaram horas conversando, mas Maneco havia deixado sua esposa sozinha em casa e precisava voltar para casa. Escreveu seu endereço num pequeno pedaço de papel e convidou o amigo para visitá-lo, Zeca aceitou no ato.
No outro dia Zeca foi até a cidade e procurou o amigo. Ao bater na porta quem o recebeu foi uma mulher muito bela que Zeca até achou que havia errado o endereço, mas se apresentou e perguntou se era ali que morava o Maneco. A moça respondeu que sim e que ela era sua esposa então o convidou para entrar e encontrou Maneco a sua espera. Durante a prosa Zeca disse a Maneco que não acreditava que aquela moça formosa fosse sua esposa. As visitas entre os três eram constantes e Zeca se encantou pela esposa do amigo, trocavam olhares, suas conversas eram sempre muito interessantes até que num belo dia quando estavam a sós seus desejos falaram mais alto e aconteceu um beijo tão esperado pelos dois. Zeca e Dalva não sabendo como olhar para Maneco decidiram não se visitar mais, mas a saudade falou mais alto e começaram a se encontrarem as escondidas. Quando Dalva cruzou pelo centro da cidade fazendo compras deparou-se com uma cigana que dizia “_Deixe eu ler lá suerte em sua mão e saberás sobre o que estás angustiada.”
Dalva estava cruzando por ela até que ouviu isto e decidiu voltar e antes mesmo de Dalva abrir a boca a cigana já pegou em sua mão e foi dizendo:
- hum, vejo uma desgraça em sua vida moça, um lago de sangue. Cuidado!
Mesmo Dalva não acreditando nestas coisas aquelas palavras da cigana tinham apavorado  coração e a deixado mais temorosa que antes. Pagou a cigana com o resto de dinheiro que tinha na carteira e foi logo contar para Zeca o que aconteceu. Zeca riu muito e chamou de louca.
_Imaginas se Maneco te vê falando com uma cigana estaremos perdidos.
Dalva não deu bola para o que disse e foi para casa pensativa e nervosa.
Maneco estava a sua espera e perguntou se tinha acontecido alguma coisa ou se ela tinha notícias de Zeca,  assustada respondeu que não o via fazia tempos e que não tinha idéia do que poderia ter acontecido para ele não mais o visitá-lo. Mas Dalva sentiu que Maneco estava com um ar desconfiado e correu para avisar Zeca do acontecido e pediu que ele voltasse a freqüentar sua casa e até sondá-lo sobre o estava acontecendo. Pensaram em mil desculpas, mas Zeca não queria ir lá não tinha forças para olhar no rosto do amigo.
Um certo dia Zeca recebeu uma mensagem de Maneco o convidando para passar uma tarde no lugar em que cresceram juntos, a Lagoa da Música. Este não sabia o que fazer e ficou descorçoado com tal convite. Pegou sua moto e foi indo pela estrada relembrando as palavras da mensagem que o deixavam muito nervoso. Entretanto, caminhando pela estrada estava a cigana, que Dalva tinha falado, ela  parou, chamando sua atenção. Antes que este falasse qualquer coisa a cigana já disse:
_Estás preocupado com um grande amor!
Zeca concordou e a cigana pegou sua mão e foi dizendo:
_Não tenha medo de amá-la ela também o ama muito, porém, tenha cuidado com o rio de sangue, este sim pode separar o que nunca foi unido.
Zeca, foi se retirando e mudo retornou ao seu destino, os pensamentos não paravam, o coração batia mais forte, e o destino mais perto.
Chegando perto da lagoa, avistou o carro de Maneco, que o esperava sozinho, mais ao longe.
Dalva estava no carro, quando Zeca parou, e foi ao encontro do amigo. Quando mais perto chegava, Maneco rispidamente falou:
_Vocês acharam que podiam me enganar, não é? Estavam com medo que eu descobrisse e cometesse uma loucura?
_Não pense assim Maneco vamos conversar...
Dalva saiu do carro correndo, desesperada  tentou abraçou-se ao amante.
Maneco não deixou nem Zeca se explicar, puxou um revólver da cintura e atirou em Dalva e em si mesmo e tentou acertar no amigo mas, já desfalecendo disse:
_Se eu não a terei mais você também não, seu traidor...
Zeca desesperado tentou salvar seu amor, mas era tarde demais o tiro foi certeiro.
Algum tempo depois encontrou novamente  a cigana, e olhando fixamente para ela disse:
- Cigana, você me disse que eu tomasse cuidado com uma lagoa de sangue, mas você esqueceu de me dizer que o sangue da lagoa era de um grande amor que me custou a dor da perca de um grande amigo.

Baseado no conto "A Cartomante" de Machado de Assis.

Um comentário:

  1. Olá pessoal !


    Muito bom o conto, tendo como referência conforme solicitado o conto A cartomante de Machado de Assis.

    bjs,
    Zezé

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